Overreaching e Overtraining.

O sobretreino (overtraining) resulta da desigualdade reincidente entre o stress e a recuperação ao longo do processo de treino. O termo stress engloba não só fatores de pressão sobre o atletas decorrentes do treino e das competições, mas também aspectos psicológicos e sociais extradesportivos (Lehmann et al. 1993).

A sobressolicitação (overreaching) é uma situação de fadiga permanente mas de duração limitada, de alguns dias a semanas. Implica uma redução da Performance do atleta ao nível do treino e da competição, e existem alterações visíveis no seu comportamento. Se forem adoptadas estratégias de recuperação ativa durante 1 a 2 semanas, tais como reduzir a carga de treino e aumentar as estratégias de regeneração neuromuscular e metabólica, este é reversível, podendo mesmo o atleta após este estado atingir “um pico de forma”, melhorando significativamente o seu desempenho desportivo (Kentta & Hassmen, 1998).

A entrada num estado de sobressolicitação é um procedimento normal e importante no treino. O problema surge quando este estado de fadiga de curta duração se transforma num estado de fadiga de longa duração, desencadeando o síndrome de sobretreino.

Este agravamento, devido ao desequilíbrio entre intensidade / volume de treino e recuperação, ou quando efeito dos stressores desportivos e/ou extradesportivos, sociais, emocionais ou físicos se acentua para além do limite do acomodável pelo atleta – fala-se do “continuum do sobretreino” (Lehmann et al. 1993).

Existe um consenso em relação ao facto de o estado de sobretreino ser caracterizado por perturbações de foro psicológico e por estados emocionais negativos. Atletas que apresentem deterioração dos estados de humor e a existência de queixas, são indicadores precoces deste estado (Halson et al. 2002).

Segundo Halson & Jeukendrup (2004), concluem que a avaliação dos estados de humor dos atletas, através de ferramentas tais como o POMS (Profile of Mood States), podem ser um bom indicador de sobressolicitação, as que torna sempre fundamental combinar com a avaliação de desempenho.

Meeusen et al. (2006) apresentam um conjunto de indicações com vista à prevenção e detecção precoce da sobressolicitação e sobretreino dirigidas a atletas e treinadores:

  • Manter registosprecisos sobre o desempenho em treino e na competição. Estar disponível para proceder um ajustamento diário da carga de treino (volume ou intensidade) ou para introduzir um dia de repouso completo, quando se verifica um decréscimo acentuado da capacidade de desempenho do atleta ou este surge com queixas de fadiga excessiva;
  • Individualizar sempre cargas de treino;
  • Intervir encorajando as boas práticas e corrigindo hábitos no âmbito da nutrição, hidratação e qualidade de sono;
  • Ter consciência de que a exposição a fatores de envolvimento geradores de ansiedade ou insegurança, dificuldades de relacionamento interpessoal ou familiar, podem ter um efeito aditivo ao stress do treino e da competição;
  • Incluir regularmente questionários psicológicos para avaliar o estado emocional do atleta;
  • Os sintomas de fadiga excessiva devem ser de imediato controlados através do aumento do tempo de recuperação ou mesmo com a aplicação de uma fase de repouso completo. A redução na carga de treino é muitas vezes suficiente para ultrapassar fases de sobressolicitação.

A eficácia do diário de treino na prevenção de problemas de adaptação aumenta consideravelmente quando se incluem indicadores de fácil utilização e acessíveis, e que podem constituir um meio eficiente de controlo quer do sobretreino, quer da recuperação (Vleck, 2003).

  • Perde de apetite;
  • Perturbação do sono;
  • Aumento da frequência cardíaca ao acordar;
    Amenorreia;
  • Alterações de humor;
  • Decréscimo no desempenho.

A avaliação da eficácia do processo de treino deve, assim, incluir as características individuais do atleta, o processo de recuperação e os stressores psicossociais (Alves, 2008).

Bibliografia

Alves F (2008). O Síndrome do Sobretreino. Fadiga e Desempenho: Uma perspectiva multidisciplinar. (pp. 51-63). Lisboa: Paulo Armada da Silva

Halson SL, Bridge MW, Meeusen R, Busschaert B, Gleeson M, Jones DA, Jeukendrup AE (2002). Time course of performance change and fatigue markers during intensified training in trained cyclists. J App Physiol, 93(3): 947-56.

Kenta G, Hassmen P (1998). Overtraining and recovery. A conceptual model. Sports Md, 26(1): 1-16.

Lehmann M, Foster C, Keul J (1993). Overtraining in endurance athletes: a brief review. Med Sci Sports Exerc, 25(7):854-862.

Vleck V, Bentley D, Cochrane T (2003). L’entraînement en triathlon: Synthèse et perspectives de recherche. Science et motricité, 3(59): 33-53.